Por uma escritura pictural: texto e imagem na arte de Alejandro Xul Solar

Até onde vai a capacidade de criação de um artista? Seria esta capacidade apenas fruto de uma estrondosa imaginação ou de uma mente genial? No caso do argentino Xul Solar, podemos dizer que as duas características se unem para dar origem a uma vasta obra que compreende quadros, pinturas, um novo tipo de jogo de xadrez e até a criação de novas línguas.

Oscar Agustín Alejandro Schulz Solari nasceu no dia 14 de dezembro de 1887, em San Fernando, província de Buenos Aires, Argentina. Quando jovem, ingressou em um curso de música e chegou a estudar arquitetura na Universidade de Buenos Aires, mas nunca terminou seus estudos na área. O gosto pelas artes, em especial pela pintura, o fez aproximar-se do artista também argentino Emilio Pettoruti, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), período em que morou na Itália. Ali, descobriu na aquarela a técnica que marcaria a sua trajetória como pintor, apesar de também ter experimentado a têmpera e a tinta a óleo (a qual raramente utilizou).

Sob o pseudônimo de Xul Solar, uma simplificação dos fonemas de seu nome, integrou-se ao movimento argentino de vanguarda artística e, para muito além deste, seguiu transgredindo padrões e deslocando sentidos, empenhado em novas possibilidades expressivas. Em suas pinturas, Xul Solar escrevia mensagens valendo-se de palavras e símbolos criados a partir de suas linguagens imaginárias. Uma delas chamava-se “Neocriollo”, uma mistura de português, espanhol e inglês que, por vezes, Xul Solar utilizava para conversar com as pessoas. Também foi o autor da “Pan-Língua”, uma língua criada para ser universal, assim como a música, a matemática e a astrologia. O artista morreu em sua casa, na cidade de Tigre, Argentina, em 09 de abril de 1963. Grande parte de sua obra pode ser conferida no Museu Xul Solar, em Buenos Aires.

Atualmente Doutoranda em Estudos Literários, Yara Augusto, com a orientação da professora Vera Casa Nova, desenvolveu a dissertação intitulada "Por uma escritura pictural: texto e imagem na arte de Alejandro Xul Solar”, na qual investiga o diálogo estabelecido entre as artes do texto e da imagem, a partir do processo progressivo de inserção da escritura nas pinturas do artista.

Em seu estudo, a pesquisadora analisou a evolução da produção do artista, que culmina no alcance de um mecanismo de escritura pictural, com as “Pensiformas”, obras cujas representações aliam simbolismo e iconicidade. As Pensiformas se originam a partir de vários alfabetos gráficos diferentes, criados por Xul Solar, que, quando retratados em um quadro, associam à pintura um texto escrito. O artista promove, desta maneira, a fusão entre o gesto de escrever e o de pintar, fazendo com que as suas obras sejam compreendidas como uma forma de poesia visual.

Com o apoio da Capes, uma nova etapa da pesquisa inquire a produção de outros artistas e poetas latino-americanos do início do século XX, que fundaram suas criações no contato entre texto e imagem.

Links com informações correlatas:

Museu Xul Solar (Site em espanhol):

http://www.xulsolar.org.ar/2010/historia-e.html

Notícia do Boletim UFMG nº 1734 (abril/2011) sobre a pesquisa:

https://www.ufmg.br/boletim/bol1734/7.shtml

A escritura pictural de Alejandro Xul Solar - artigo publicado por Yara Augusto na Revista Em Tese v.18 n.3 (set/dez. 2012):

http://www.letras.ufmg.br/poslit/08_publicacoes_pgs/Em%20Tese%2018/Em%20Tese%2018,3.html